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Postado em 24 de Maio de 2016 às 14h28

Quem abandona e é abandonado tem sentimentos diferentes?

As pessoas conhecem-se, escolhem viver a dois e, um belo dia, resolvem se separar.
A maior de todas as lições é aprender a lidar com a perda, entendendo que tudo em nossas vidas tem uma função a cumprir e deve permanecer o tempo necessário para a troca de energia correta, preenchendo momentos com plenitude e seguindo em frente para ceder espaço às coisas novas que necessitamos vivenciar.
Nem sempre as pessoas casam por amor e, mesmo aqueles que o fazem muitas vezes não conseguem que o amor sustente um relacionamento maduro ao longo dos anos.
Ao invés de ambos os parceiros encaixarem-se em direção à maturidade, eles desenvolvem um padrão onde não conseguem sair do estágio inicial de aprisionamento e tornam-se extremamente intolerantes à desilusão.
O OUTRO NÃO ERA O QUE ESPERÁVAMOS!
Duas individualidades juntaram-se com diferentes expectativas e com um pensamento ONIPOTENTE de que, com o casamento, iriam mudar o outro: doce ilusão, imensa e errônea pretensão… Afinal, é tão óbvio que a responsabilidade pelas nossas mudanças é só nossa e não podemos depositar no outro a função de transformar-nos ou salvar-nos de nós mesmos…
Alguns casais se vêem numa encruzilhada nesta fase do casamento: ou percebem que a convivência a dois é uma arte e resolvem investir nela negociando novas formas de funcionamento ou se acomodam e permanecem juntos até que a morte os separe ou algum fator externo venha desencadear uma crise e, magicamente, resgate-os do tédio que os envolve.
Há uma outra hipótese e é desta que pretendemos aqui fazer uma análise: aqueles que resolvem enfrentar a separação, aqueles que DEIXAM ou são DEIXADOS.
Juntos por pressões familiares, razões financeiras, medo do fracasso ou medo da solidão, homens e mulheres vão perpetuando uma relação já deteriorada num jogo de faz-de-conta perigoso! É comum assistirmos à casais que, APARENTEMENTE conformados, apresentam: problemas psicossomáticos graves, deixam o silêncio tomar conta daqueles que deveriam ser seus momentos de lazer, discutem rancorosamente diante dos filhos, distanciam-se sexualmente ou eventualmente fazem um sexo robotizado sem afeto ou emoção e acabam por transformarem-se em seres humanos amargos, ressentidos e descrentes de toda e qualquer forma de amor.
A consciência do mútuo desapontamento e insatisfação é sentida pelo casal. Porém quem será aquele que vai DEIXAR?
Sim, porque sempre existe aquele que é mais inquieto, que não consegue permanecer estagnado na insatisfação fingindo que está tudo bem e que, apesar dos medos, dúvidas e hesitações, acredita fortemente na capacidade para reorganizar sua própria vida de forma mais satisfatória. Deixar para trás o que não deu certo e partir para algo novo torna-se uma necessidade forte! Já não dá mais para manter a ilusão de que têm um bom casamento apenas porque este, não sendo satisfatório, não é de todo insuportável.
QUEM DEIXA vive a sensação de estar dando um salto no escuro! É como se estivesse no meio de uma ponte: olhando para trás ,vê que já não mais possui os antigos referenciais e, ao mesmo tempo, nada de concreto ainda se avizinha lá na frente… "Quem garante que tomei a atitude certa?" "E se eu me arrepender?" "Como posso não mais querer alguém que foi tão legal em vários momentos?" "Só estou pensando na minha felicidade e ele/a está sofrendo tanto…"
ARREPENDIMENTO pela decisão de sair, CULPA por incorporar o papel daquele/a que quer mudar e ser feliz, PÊSO pelo desinteresse sexual, CONFUSÃO entre ainda gostar do outro mas já não mais querê-lo, SOFRIMENTO com as críticas familiares, MÊDO de não ser competente o bastante para sobreviver sozinho/a.
QUEM É DEIXADO sente-se ,com freqüência, tomado de surpresa, traído, injustiçado. "Foi tudo tão de repente! Não sabia que estávamos tão mal assim…" "Onde é que eu errei? Sempre procurei ser tão legal, tão amigo/a?" "Será que ele/a tem outra pessoa?"
Para uso externo, a decisão do que deixa parece ser repentina, impulsiva, porém, via de regra, ela emerge de um longo processo interno, de sucessivas reflexões onde o pseudo abandonador esteve ruminando cada passo, cada sentimento até chegar ao ato final expresso através de uma frase curta e cortante:
"Não dá mais, quero me separar."
Aquele que está sendo deixado não "via" nada antes, não percebia as necessidades do outro, NEGAVA! "Algo estava acontecendo na relação… Ele/a até sinalizou diversas vezes, pediu prá conversar… E conversamos e achei que, depois , ficava tudo bem…"
Não, nada ficava tudo bem! Era apenas uma aparente trégua onde, como bem define a palavra, havia uma "Suspensão temporária de hostilidades", "Instantes de alívio", "Descanso" : um momento que deveria ter servido ao propósito de reunir forças, sentar e traçar novas estratégias de busca de uma qualidade de vida melhor.
Uma das reações mais comuns, ao ser deixado , é colocar o problema no outro. É sempre mais difícil perder para si mesmo! Imaginar-se trocado por alguém facilita muito a dor de ser deixado, por mais paradoxal que isto possa parecer. Nos estágios iniciais da separação é sempre melhor acumular raivas e ódios ao invés de ter que SE olhar e repensar a sua vida a partir de si próprio sem colocar a culpa do não ter dado certo FORA, no outro! É mais confortável acreditar que se está separando de alguém mau caráter, traidor do que se deter num trabalho interno para construir um bom relacionamento consigo mesmo para ser feliz no futuro e, ainda, ter que perceber (que raiva!) em como contribuiu tantas vezes para ser deixado/a.
Recordar das inúmeras vezes em que evitou o confronto de bater um papo alegando que o/a parceira estava fazendo drama à-toa!
Refletir sobre os silêncios que, a seguir, se instalavam e cada um ia para suas atividades gerando um abismo intransponível onde a solidão imperava e o romantismo ficava mergulhado no esquecimento…
DEIXAR ou SER DEIXADO é sempre uma experiência dolorosa, uma denúncia de que não se foi capaz de interagir adequadamente, de negociar e harmonizar as diferenças.
É um momento de CRISE e a grande vantagem da crise é propiciar a oportunidade para mudar. Diante das situações de crise, fabricamos recursos que nem imaginávamos possuir como se , no interior de nossa estrutura emocional, existisse um fundo de reservas especialmente guardado para recorrermos nas ocasiões limites da vida.
Resgatar a competência, Adquirir novas formas de relacionamento com o mundo, Reorganizar o dia-a-dia de forma objetiva e satisfatória, Criar novos padrões de comportamento para substituir os antigos, Rever detalhada e profundamente os problemas que geraram os conflitos para não repeti-los no futuro, Enfim, TRANSFORMAR A SEPARAÇÃO NUMA EXPERIÊNCIA CONSTRUTIVA tanto quanto for possível.
Isto vale, igualmente, para QUEM DEIXA ou para QUEM É DEIXADO.


Por Ieda Dreger. 

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