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Postado em 24 de Maio de 2016 às 17h54

Porque os jovens perderam a noção dos limites?

Semana passada uma estagiária manda matar a pessoa que estava substituindo temporariamente no trabalho, há três anos um juiz jovem mata outro jovem por uma discussão banal (e fica impune), no mês de junho deste ano, uma empregada doméstica é espancada na rua por cinco jovens de classe média do Rio; em dezembro de 2005, três universitários da PUC de Campinas são presos por dopar e estuprar uma colega; em fevereiro de 99, numa festa de calouros e veteranos da Faculdade de Medicina da USP, um calouro é encontrado morto na piscina, e a causa foi que ninguém foi ajudá-lo a sair e ele não sabia nadar. Em 97, três adolescentes jogam álcool e ateiam fogo num homem adormecido perto de uma parada de ônibus em Brasília.

Em quase todas as histórias os absurdos foram justificados como brincadeiras. Que tipo de brincadeiras são essas onde uns riem e outros morrem, são humilhados e machucados? Quando as pessoas brincam costumam combinar a brincadeira e ter o consentimento de todos. Quando não for assim passa da brincadeira para a violência.

Imagino que como eu, muitas pessoas devem estar se perguntando o que aconteceu com os valores, a educação, a família e a escola. Penso que é um tema que não esgota sua discussão em algumas linhas, mas penso também que é preciso dialogar muito para que tenhamos tempo de mudar o que ainda pudermos.

Claro que não existe uma causa única para os fatos, como também não existe uma solução única, linear, o que não nos dá direito de ficar alheios à busca de soluções.

Podemos citar como causa a perda da autoridade dos pais que passaram a ser permissivos demais diante das exigências dos filhos, mas há também a dificuldade nos diálogos e em conseqüência disso, uma quebra de valores.

A escola também tem responsabilidade porque alguns alunos passam grande parte do dia numa delas. Mas muitas vezes me pergunto diante do que observo em meu consultório: como colocar limites dentro da escola se isso não é feito em casa? Desta forma vem o desacato ao professor que também sente-se amarrado. Não quero desta forma, isolar a escola de sua responsabilidade, mas tenho visto muitos pais delegarem a educação e limites de seus filhos a outros, como forma de não assumirem esta responsabilidade.

Cada pessoa quando nasce tem sentimentos primários (ódio, inveja) que convivem com outros (solidariedade, lealdade, compaixão). O que determina que caminhos cada um seguirá é a possibilidade de transformar esses sentimentos primários em canais que não afetem negativamente a vida de outras pessoas e as suas próprias.

Cabe à família, escola e sociedade ajudar a criança a transformar os impulsos em comportamentos aceitáveis.

Quando isolamos nossos filhos e os protegemos das “mazelas da vida” em muitos momentos levamos eles a uma intolerância que torna mais difícil desenvolver a solidariedade.

Passar valores aos filhos é fundamental. Se gritarmos e batemos ensinamos que a violência resolve. Se deixarmos nosso filho ganhar no jogo, perdemos a chance de ensinar a eles que na vida também temos perdas e precisamos aprender a lidar com elas, além do que não estamos ensinando eles a jogarem e ainda estamos ensinando a trapaça, se permitirmos que deixem seus quartos e afazeres bagunçados, que tipo de responsabilidade estamos pregando? Sim, cada idade tem suas responsabilidades.

“Ah, mas não queremos vê-los sofrerem”, dizem os pais quando não podem dar tudo o que os filhos querem ou não podem permitir tudo o que gostariam. Esquecem que a frustração faz parte da vida e não é falha no processo de desenvolvimento. Crianças que não aprendem a lidar com a frustração tornam-se birrentas, impacientes e intolerantes e tem a tornarem-se adultos que não conseguem viver com o adiamento de suas satisfações, querem tudo na hora.

À escola cabe traduzir normas que regem o convívio humano e o código de ética. Além disso, tudo o que acontece dentro dos muros de uma escola é responsabilidade sua. Tenho visto muitos apelidos maldosos e brincadeiras embaraçosas nas escolas sendo tratadas como eventos normais.

À família cabe dialogar, colocar limites e assumir as brigas que podem existir com isso.

Penso que o grande perigo na vida do adolescente é o cinismo. Se os jovens acreditam que nada tem a ver com o que acontece no mundo a sua volta perdemos a chance de ter um mundo melhor. É na adolescência que se instala a capacidade de raciocínio abstrato, é o melhor momento para aprender valores como a tolerância com o diferente, a justiça, o sentimento de solidariedade e compreensão. È hora de encontrar canais adequados para despejar a insatisfação e a rebeldia. Quem sabe esses canais possam ser espaços onde a indignação com a injustiça contribua para melhorar o mundo, em vez de aceitar que nele só os espertalhões que levam vantagem.

Por Ieda Dreger

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