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Postado em 24 de Maio de 2016 às 14h35

E se seu filho for homossexual?

É pouco provável que ao sonhar com o futuro de seu filho, os pais incluam em suas listas de características desejáveis a homossexualidade. Por mais esclarecidos que sejam, tendo ou não amigos com esse perfil e ainda que se considerem sem preconceitos.
A certeza causa ainda mais desconforto, que segue com angústia, vergonha, culpa e uma sensação de perda. A preocupação passa a ser a vida de exclusão que o filho pode vir a ter. Os pais pensam que ele vai ter dificuldade de arrumar emprego, que será motivo de chacotas, que será discriminado, etc.
Nossa sociedade adota como bom tudo o que é igual, produzido em série, com os mesmos pensamentos e ações. E condena tudo o que é diferente. E aqui incluem-se outras facções de pessoas diferentes, os que se vestem diferente, os que se portam diferente, os que pensam diferente. O diferente nos assusta e então, em vez de nos aproximarmos para entender, nos distanciamos e criamos rótulos. Tudo o que é diferente causa medo. Temos medo do desconhecido e até como forma de defesa ignoramos tudo o que é diferente, isolamos, condenamos.
É importante lembrar que ninguém tem culpa. Nem a ciência explica exatamente por que alguém se encaminha nesta direção. O mais provável é que seja fruto de fatores combinados de origem biológica, psicológica e sócio-cultural. Mas homossexualidade masculina ou feminina não são doenças, nem desvios de conduta. O que se sabe é que desde os mais remotos tempos ela já existia. No apogeu da Grécia o amor homossexual masculino era valorizado acima do amor heterossexual e era considerado puro e grandioso.
Em minha prática profissional tenho tido a oportunidade de conhecer gays lindos. Não falando de beleza física, mas de coração, de cultura, de educação. Gays esses que não escolheram ser gays, e sim, que se perceberam assim quando a sexualidade começou a despertar. Amedrontados, assustados, não entendiam seus sentimentos.
Eis alguns depoimentos.
“Nunca vou contar para ninguém, nunca fiquei com ninguém, morro de medo que vão me bater na rua e me chamar de bicha. Não escolhi ser assim, se pudesse mudava para não sofrer tanto medo.” (Lucas - 30 anos)
“Eu me odeio por ser assim, sou feliz quando estou com meu namorado, mas sei que nunca vou poder contar isso aos meus pais.” (Fernando - 28 anos).
Comecei a compreender que estas pessoas eram punidas, mas não por algum mau ato que pudessem ter cometido, e sim por uma aflição do coração - por amarem verdadeiramente alguém do mesmo gênero, quando o restante da sociedade desejava que amassem apenas aqueles do gênero oposto.
Muito se fala em homossexualidade como escolha. Discordo. Em nenhum paciente percebo escolha. Ao contrário, muito sofrimento pela definição, porque sabem dos preconceitos a que serão submetidos. Até porque para a maioria das pessoas a palavra “homossexualidade” é vista quase como contexto de irresponsabilidade, imoralidade, promiscuidade, etc.
Conheço casais de gays que estão juntos há 5, 10, 20 anos e tem vidas absolutamente sadias, onde os dois trabalham, vivem em sociedade, contribuem com o crescimento da cidade...como qualquer outra pessoa.

Repito, não há culpados. O que importa é que as pessoas possam se unir - a família e até amigos próximos para se auxiliarem a lidar com a quebra dos sonhos. Sim porque todos os pais idealizam um futuro para seus filhos que neste momento está se quebrando. Mas o filho também precisa de auxilio, porque também está diante de uma situação nova. Vai enfrentar algumas dificuldades nesse novo caminhar e vai precisar de apoio.
O silêncio e o segredo são atitudes que tomam a alegria de viver. Não se consegue viver com um segredo por muito tempo sem que ele cause uma culpa terrível. Esse “mal estar” se transforma em problemas maiores, levando muitos jovens ao suicídio sem encontrarem saída. Os gays de vida dupla experimentam duas sensações opostas e de igual intensidade. Nas noitadas, vivem experiências prazerosas, mas mergulham na culpa ao voltar para casa. Pessoas assim costumam ter uma auto-estima muito baixa. São expostos a constrangimentos freqüentes, seja em casa ou fora dela, ao ouvirem palavras duras sobre os homossexuais.
Ser gay é alguém que pode ter orgulho pela diversidade e pelo papel de transformação. Porque é preciso ser muito forte para assumir ser diferente em uma sociedade que ainda apregoa que o correto é o igual sempre.

Por Ieda Dreger. 

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